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http://ffcep.com.br/br/empresa/fundador/prefeito#sigProGalleriaebac6e6125
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Quando assumiu a prefeitura de São Paulo, em 1971, seu nome era praticamente uma unanimidade mesmo para os mais rigorosos opositores do regime militar, que abolira as eleições diretas para as prefeituras. Suas passagens anteriores pelas secretarias municipais de Obras (1957) e de Transportes (1968) haviam deixado uma marca de integridade e absoluta coerência na vida pública (demitiu-se da secretaria dos Transportes por não ter a Assembléia aprovado seu plano de unificação das ferrovias do Estado), trilhada com independência de todos os partidos políticos.
Mas o intelectual, o amante das artes e da literatura, o crítico consciente da tragédia humana, contida nesse mesmo progresso, o administrador voltado para a vida pública nunca se deixou seduzir apenas pela grandiosidade das obras de engenharia, esquecendo-se de que ela é uma técnica a serviço da sociedade. Foi essa lucidez que o levou a proclamar que São Paulo "precisava parar de crescer", repetida pela imprensa de todo o país pelo choque que causava naquele momento inicial do chamado "milagre econômico" brasileiro, quando os paulistanos se inebriavam de sua potência industrial e o slogan da época era o anúncio orgulhoso - "São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo".
Em seu artigo "Um prefeito sem amarras políticas", publicado no jornal O Estado de São Paulo em 28 de junho de 1994, o jornalista Julio Moreno relembra:
"Quem viveu os anos 70 deve se lembrar do destaque que tiveram notícias como a construção da linha Norte-Sul do Metrô, a nova Lei do Zoneamento e o plano de vias expressas, entre outras. São Paulo vivia uma verdadeira revolução urbana e os jornais se desdobravem para explicar tudo, da melhor maneira possível, aos seus leitores. Por trás daquela revolução havia a figura do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz, certamente um dos que mais marcaram a cidade neste século."
"Figueiredo Ferraz tinha um vigor extraordinário. Campeão fundista na juventude, continuava em muito boa forma quando prefeito. Era difícil para seus assessores - e mesmo para nós, jovens jornalistas - acompanhar seus piques, quer nas inspeções de obras, quer no 'plantão mental' pela cidade que se impunha, mesmo quando deveria descansar. O vigor não era só físico, mas também intelectual e, sobretudo, de caráter."
"Em pouco mais de dois anos, ele deu à cidade - com a ajuda da Câmara - um novo Plano Diretor, a Lei do Zoneamento, a Emurb, a Prodam, o novo Código de Obras, a Lei de Áreas Verdes, a nova regulamentação de arruamentos e loteamentos, o novo Código Tributário e a lei que disciplina o ruído urbano, além de revigorar a Comgás, tocar a fundo a obra da primeira linha do metrô e conceber a nova Paulista e o plano de vias expressas. São trabalhos importantes, tanto para a administração pública quanto para a cidade em sí. A Lei do Zoneamento foi, de fato, o instrumento que ordenou a cidade deste final de século, impondo limites para os gabaritos dos prédios, incentivando áreas livres em torno das construções e dividindo melhor as atividades urbanas. Figueiredo Ferraz se preocupava em restaurar um pouco da qualidade de vida que ele encontrou em São Paulo quando, menino do Interior, veio viver aqui."
"Aqui se formou engenheiro, aqui projetou várias obras de destaque da engenharia nacional. Foi secretário de Estado. E foi prefeito. Sem amarras políticas, tornou-se um prefeito famoso por brigar contra a poluição da fábrica de cimento Perus, do poderoso J. J. Abdalla; enfrentou com coerência a antiga Light, numa polêmica sobre sua responsabilidade nas enchentes da cidade; e exigiu, de cara limpa, do governo federal o retorno para São Paulo de maior parte do dinheiro gasto em impostos pelos habitantes da cidade"
"Prefeito de personalidade, incomodou a imagem de um governador fraco que o demitiu. Nunca mais voltou à vida pública, mas continuou defendendo, como poucos, os interesses de São Paulo e de seus habitantes. Com a sempre repetida tese 'São Paulo precisa parar', foi ao Congresso Nacional, participou de simpósios, fez palestras no interior, para mostrar o padoxo urbano fruto do violento processo de desenvolvimento desequilibrado do País. Um tema técnico, que ele sabia tratar com o racionalismo de um engenheiro, mas também com o humanismo de um poeta, como se constata por esse seu depoimento de 1973 sobre São Paulo: 'Adquiriste a beleza geométrica e perdeste a beleza interior. Sentes o peso do crescer. Parece que pressentes o teu destino dramático. Mesmo assim caminhas para ele inexoravelmente, consciente do amargo futuro que te espera por crescer, sempre crescer. Mas tu, São Paulo, ainda tens alma. Não perdeste de todo a consciência. Há tempo para que medites. Não te destruas na ânsia de te construires. Prefiro-te grande e viva do que gigante e morta'."
"Se os brutos também choram, São Paulo está de lágrimas agora."
Mas o intelectual, o amante das artes e da literatura, o crítico consciente da tragédia humana, contida nesse mesmo progresso, o administrador voltado para a vida pública nunca se deixou seduzir apenas pela grandiosidade das obras de engenharia, esquecendo-se de que ela é uma técnica a serviço da sociedade. Foi essa lucidez que o levou a proclamar que São Paulo "precisava parar de crescer", repetida pela imprensa de todo o país pelo choque que causava naquele momento inicial do chamado "milagre econômico" brasileiro, quando os paulistanos se inebriavam de sua potência industrial e o slogan da época era o anúncio orgulhoso - "São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo".
Em seu artigo "Um prefeito sem amarras políticas", publicado no jornal O Estado de São Paulo em 28 de junho de 1994, o jornalista Julio Moreno relembra:
"Quem viveu os anos 70 deve se lembrar do destaque que tiveram notícias como a construção da linha Norte-Sul do Metrô, a nova Lei do Zoneamento e o plano de vias expressas, entre outras. São Paulo vivia uma verdadeira revolução urbana e os jornais se desdobravem para explicar tudo, da melhor maneira possível, aos seus leitores. Por trás daquela revolução havia a figura do prefeito José Carlos de Figueiredo Ferraz, certamente um dos que mais marcaram a cidade neste século."
"Figueiredo Ferraz tinha um vigor extraordinário. Campeão fundista na juventude, continuava em muito boa forma quando prefeito. Era difícil para seus assessores - e mesmo para nós, jovens jornalistas - acompanhar seus piques, quer nas inspeções de obras, quer no 'plantão mental' pela cidade que se impunha, mesmo quando deveria descansar. O vigor não era só físico, mas também intelectual e, sobretudo, de caráter."
"Em pouco mais de dois anos, ele deu à cidade - com a ajuda da Câmara - um novo Plano Diretor, a Lei do Zoneamento, a Emurb, a Prodam, o novo Código de Obras, a Lei de Áreas Verdes, a nova regulamentação de arruamentos e loteamentos, o novo Código Tributário e a lei que disciplina o ruído urbano, além de revigorar a Comgás, tocar a fundo a obra da primeira linha do metrô e conceber a nova Paulista e o plano de vias expressas. São trabalhos importantes, tanto para a administração pública quanto para a cidade em sí. A Lei do Zoneamento foi, de fato, o instrumento que ordenou a cidade deste final de século, impondo limites para os gabaritos dos prédios, incentivando áreas livres em torno das construções e dividindo melhor as atividades urbanas. Figueiredo Ferraz se preocupava em restaurar um pouco da qualidade de vida que ele encontrou em São Paulo quando, menino do Interior, veio viver aqui."
"Aqui se formou engenheiro, aqui projetou várias obras de destaque da engenharia nacional. Foi secretário de Estado. E foi prefeito. Sem amarras políticas, tornou-se um prefeito famoso por brigar contra a poluição da fábrica de cimento Perus, do poderoso J. J. Abdalla; enfrentou com coerência a antiga Light, numa polêmica sobre sua responsabilidade nas enchentes da cidade; e exigiu, de cara limpa, do governo federal o retorno para São Paulo de maior parte do dinheiro gasto em impostos pelos habitantes da cidade"
"Prefeito de personalidade, incomodou a imagem de um governador fraco que o demitiu. Nunca mais voltou à vida pública, mas continuou defendendo, como poucos, os interesses de São Paulo e de seus habitantes. Com a sempre repetida tese 'São Paulo precisa parar', foi ao Congresso Nacional, participou de simpósios, fez palestras no interior, para mostrar o padoxo urbano fruto do violento processo de desenvolvimento desequilibrado do País. Um tema técnico, que ele sabia tratar com o racionalismo de um engenheiro, mas também com o humanismo de um poeta, como se constata por esse seu depoimento de 1973 sobre São Paulo: 'Adquiriste a beleza geométrica e perdeste a beleza interior. Sentes o peso do crescer. Parece que pressentes o teu destino dramático. Mesmo assim caminhas para ele inexoravelmente, consciente do amargo futuro que te espera por crescer, sempre crescer. Mas tu, São Paulo, ainda tens alma. Não perdeste de todo a consciência. Há tempo para que medites. Não te destruas na ânsia de te construires. Prefiro-te grande e viva do que gigante e morta'."
"Se os brutos também choram, São Paulo está de lágrimas agora."
(condensação livre de um texto de Silvana Assunção e artigo de Júlio Moreno)
(texto4.doc) RPG - 28/07/1997 (rev. 1)